“O segredo é o fomento para a juventude”
Leia abaixo entrevista da secretária do Audiovisual do Ministério da Cultura, Mariana Ribas, ao jornalista André Miranda, de O Globo.
O que o MinC espera do futuro da Agência Nacional do Cinema (Ancine)? O mandato de dois diretores acaba neste primeiro semestre, inclusive o do diretor-presidente, Manoel Rangel. Especula-se sobre mudanças nas políticas da agência. Isso vai ocorrer?
O ministro (Roberto Freire) já anunciou que haverá mudanças, mas acho que será uma transição tranquila. Ele está analisando nomes e deve fazer o anúncio em breve. Em toda troca de gestão, e é o que está acontecendo agora na SAv, temos que analisar processos, respeitando o que funciona, e mudar o que achamos que não funciona.
E em relação ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA)? Houve momentos no último ano em que se comentou um possível interesse do governo de transferir sua gestão da Ancine para a Secretaria do Audiovisual. Isso pode ocorrer?
A gente já tem na secretaria uma parte de recursos não reembolsáveis do FSA. Acho que uma parte maior do Fundo poderia vir para a secretaria, mas sou a favor de conversa, não podemos tomar atitudes arbitrárias. Temos o Conselho Superior de Cinema e também o Comitê Gestor do FSA, e qualquer proposta tem que ser levada às duas instâncias e discutida.
De onde vem a verba para os editais da Secretaria do Audiovisual?
A SAv tem três editais em fase de análise pelas comissões julgadoras, os três fruto de uma parceria com a Ancine, com recursos do FSA. São os editais de longas-metragens afirmativos, longas infantis e longas de ficção, no valor total de R$ 27,5 milhões. O resultado deve sair em fevereiro.
Você planeja criar outros editais?
O segredo é o fomento para a juventude. Um dos principais desafios é entender as vocações de cada região do Brasil, com foco na juventude. Na formação de público, na formação de profissionais. Além disso, a SAv não tem hoje um programa de editais anual. Quando se tem um programa anual, os produtores podem se planejar. Estamos conversando nessa direção. Também não temos um programa para mostras e festivais. Nosso olhar tem que ser amplo, mas principalmente para os festivais pequenos e médios, que não conseguem captar via Lei Rouanet. Podemos pensar também num edital para desenvolvimento de aplicativos. Estamos trabalhando para divulgar essas linhas ainda no primeiro trimestre.
De onde viria a verba para esses editais? Do Fundo Setorial?
A gente tem possibilidades, além do orçamento próprio. Há o FSA, o Fundo Nacional de Cultura e também a Rouanet. A ideia é que haja uma aproximação junto às estatais para que a gente consiga alinhar as políticas públicas do ministério com os investimento da Rouanet das estatais.
Mas essa ideia de ter recursos oriundos das estatais passa pela reforma da Lei Rouanet, não?
Sim, mas o ministro já anunciou que até o fim do mês serão divulgadas mudanças que não dependem do Senado. Será uma Instrução Normativa.
Na gestão de Marcelo Calero no Ministério da Cultura, duas polêmicas se originaram na Secretaria do Audiovisual (SAv). A primeira foi a exoneração de Olga Futemma, coordenadora-geral da Cinemateca Brasileira, em julho. O governo acabou voltando atrás e readmitindo Olga. Você era secretária executiva do MinC na época. O que aconteceu?
O nome dela e os de outros funcionários da Cinemateca foram na leva de exonerações. Recebemos o abaixo-assinado (feito por cineastas, criticando as mudanças na Cinemateca), percebemos o erro e voltamos atrás. Tanto que minha primeira reunião de 2017 foi na Cinemateca, com a Olga. A instituição é nossa prioridade, considero importante entender as demandas e pensar no seu fortalecimento.
A decisão de voltar atrás não teve relação com a notícia de que o substituto escolhido pelo MinC para a Cinemateca, Oswaldo Massaini Filho, respondia a um processo na Justiça?
As indicações das equipes dos órgãos vinculados e das próprias secretarias são feitas pelos secretários e responsáveis das áreas. Como secretária executiva, eu participava com o envio de documentações. Mas os secretários eram livres para escolher suas equipes.
Também partiu da Secretaria do Audiovisual a escolha da comissão do Oscar de filme estrangeiro, que acabou não indicando "Aquarius". Houve uma leitura de parte da sociedade de que o grupo foi formado justamente para não escolher o filme, depois que sua equipe protestou contra o governo em Cannes. Isso aconteceu?
De jeito nenhum. No momento da reunião para escolher o filme, a própria SAv não participou, e deixou os jurados bastante à vontade para tomar a decisão.
É possível tornar a escolha da comissão mais transparente?
Eu acredito que sim. A gente pode estudar alguma maneira de, além dos jurados, ter alguma proximidade com a sociedade civil, com o público que assistiu aos filmes. Podemos estudar uma maneira de a sociedade ter uma participação maior, além dos especialistas que a gente convoca para essa escolha.
Você foi para o MinC levada por Calero. Seis meses depois, ele deixou o governo acusando outro ministro de tentar intervir numa decisão do Iphan, e ainda disse que o próprio presidente Michel Temer o pressionou. Você sentiu constrangimento em ficar no MinC?
Na verdade eu vim de uma gestão do PMDB. Fui coordenadora de Fomento na Secretaria municipal de Cultura (do Rio), depois diretora comercial e então diretora-presidente da RioFilme. Saí de uma gestão do PMDB para outra do PMDB. Fui muito bem acolhida pelo ministro Roberto Freire e acredito que tenho uma contribuição técnica para dar.
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